Minha amiga Soraya, que mora lá em Belo horizonte me pediu pra escrever um texto sobre amizade. Relutei por alguns dias por não me sentir capaz de colocar em uma folha em branco a beleza e o valor deste substantivo feminino.
Como surgem as amizades?
Para mim, parece que a cada vez que conheci alguém que faria parte sempre da minha vida, houve uma eletricidade, uma combustão instantânea. Hoje olhando como se fosse um filme antigo sou capaz de perceber os sinais de que cada uma delas ia durar a vida.
Ainda me lembro da primeira vez que vi a Soraya. Era o nosso primeiro dia de aula na faculdade, ela estava sentada na cadeira a minha frente e tudo que eu podia ver eram seus longos, cheios e lisos cabelos castanhos com finíssimas luzes cintilantes. Eu estava hipnotizada por aquela beleza ímpar. Quem diria que o primeiro ponto que me atraiu para minha grande amiga foi justamente aquilo que a tornou uma grande artista e empresária de sucesso. Sigam no instagram @sorayaoliveiraoficial e entenderão. Fascinada estava eu por aquela juba de dar inveja, tive que ir conversar com sua dona e esta conversa dura até hoje, já faz aí quase 20 anos, nem mesmo os 1.200 km que nos separa conseguiu parar.
Amizade não tem muito a ver com se parecer ou se identificar no outro. Minhas amigas e eu nem sempre temos aspectos sociais ou características emocionais em comum, mas mesmo assim nossas relações são sólidas feito diamantes.
Dentro desta concepção de encontrar amigos aleatoriamente, um encontro que marcou profundamente minha vida foi o que tive com Maria, também lá em Minas Gerais, nos meus tempos de exílio. Tinha ido a pé, a aproximadamente 1 km de casa, buscar a minha filha na escola. Era fim de tarde e passamos em uma frutaria no caminho de volta. Nos atendeu uma mulher linda, simpática, sorriso radiante, plenamente consciente de sua sensualidade e negritude beleza. Conversamos um pouco sobre dietas e melancias ao que ela se prontificou a levar minhas frutas pra casa quando fechasse seu negócio. E acontece o inexplicável. Morávamos no mesmo condomínio. A conversa naquela noite se estendeu até a madrugada, depois tantos dias e incontáveis noites adentro e mesmo depois de quase duas décadas, quando nos encontramos tudo se dá da mesma forma. O significado de ter a Maria em minha vida, acho e espero, só ela pode entender. Nossa relação é indestrutível. Nem mandiga, inveja, ciúmes, distância e tempo pode nos separar.
Amizades não são relações intocáveis e sem conflitos. As vezes brigamos com um amigo, quase fazemos uma besteira irreparável por questões que com o passar dos anos entram na linha do esquecimento e você já nem se lembra porque aquilo se deu. Como quando fiquei meses afastada da minha querida Delly lá de Vitória ES. Estávamos vivendo um momento ruim, ela perdendo um familiar muito próximo, eu com o pai internado depois de uma maratona contra um câncer, estávamos fragilizadas e hoje já nem sei porquê, brigamos e perdemos meses de nossa preciosa vida distantes uma da outra. Admito minha casca fechada e dura de quebrar e agradeço por ela ter sido paciente e não ter desistido de mim. Nosso amor está aí, mais forte do que nunca, agora temos a convicção, que só a maturidade traz, que somos inseparáveis.
Uma única vez perdi uma amiga assim, por uma coisa boba. Ainda sinto falta dela e a porta que deixei aberta continua, passados quase 10 anos. Torço para que ela um dia veja a inutilidade de perder um dos dedos por nada…
Convivência familiar não é sinônimo de amizade profunda. Irmãos nem sempre são melhores amigos. Tive sorte de nascer em uma época onde os casais tinham muitos filhos. Somos seis irmãos e temos uma relação gostosa de amor e carinho que se consolida ainda mais a medida que amadurecemos e vemos crescer filhos e nascer netos. Minhas irmãs e eu quando nos encontramos é sinônimo de festa e muita diversão. Fazemos voluntária e amorosamente a arte de rir dos defeitos do outro sem que este se ofenda e repetimos as mesmas histórias mil vezes contadas, ainda assim parecendo inéditas. Sinto muita falta deles pois a distância nos separa e não podemos nos encontrar com a frequência que gostaríamos. Um mora aqui outro lá, mas existe uma linha direta de amor e solidariedade que num piscar de olhos extingue as distâncias e o tempo.
Nas perdas e ganhos da vida, acertei algumas vezes na mega sena dos relacionamentos. Ter na minha vida uma irmã e melhor amiga juntas em um único e amoroso ser é como se o universo me desse um presente grandioso com o poder de curar as feridas que as algruras da vida iam me causar. Naka, minha irmã protetora, amiga confidente, nossa amizade me emociona de tal forma que meus olhos se turvam agora escrevendo. Como aconteceu? Foi acontecendo. A dimensão deste relacionamento ultrapassa a linha do tempo, a velocidade da luz, os buracos negros e qualquer força contrária que tente impulsionar nossos corpos a extremos opostos. Sempre nos uniremos e buscaremos nossa conjunção de almas. Um simples eu te amo jamais descreveria os meus sentimentos por ela e banalizaria o tamanho deste amor.
Não posso me desviar do pedido da Soraya descrevendo aqui minhas amizades e não falando sobre a amizade. Mas como separar uma coisa da outra? Para mim não há forma de descrever a amizade senão falando sobre elas. Este talvez não seja o texto que ela esperava, mas é agora minha declaração, meu tributo a estas mulheres que cabem exatamente nos dez dedos de minhas mãos. Elas sabem quem são. Muitas pessoas não tem amigos pra encher uma mão, ter duas mãos cheias e um grande amor no coração me salvou a vida e me impulsiona a desfrutar com mais intensidade meu curto espaço de tempo neste lugar. Sim, não importa quanto dure, descobri infelizmente, é pouco.
Os últimos dois anos foram os mais difíceis que enfrentei. Tive que lutar com a pior dor imaginada por um ser humano, perder um filho, pior ainda, a única e na sequência lutar contra uma doença emocionalmente devastadora, câncer. O que causou um atraso na consolidação de novas amizades que estavam em formação aqui em Santa Catarina. Mas, ainda há tempo e se a ligação existe e é verdadeira nossas relações se solidificarão agora que a vida finalmente está entrando nos eixos. Foi somente por ter sólidas amizades e um amor verdadeiro é que pude emergir do caos e encontrar novamente um sentido de existir.
Poucos dias atrás fizemos uma festa de melhores amigas aqui em minha casa para celebrarmos minha vitória. Minha sala se encheu de belezas de diferentes estados. Nathany, Naka, Alda, Delly, Soraya, Maria, Cida, Marta e Rosani vieram me encher de carinhos e celebrar comigo esse momento. Foi um encontro muito divertido, lindo e inesquecível. Acredito, que mesmo depois que envelhecermos, se o Alzheimer não nos consumir, lembraremos deste final de semana festivo.
Relembrar estes momentos em que estou junto com amigas em grupo ou individualmente é como se pedacinhos de felicidade flutuasse ao meu redor e eu pudesse pegar cada um com minhas mãos e sentir novamente as emoções daquele instante.
Minhas amigas não me impedem de entristecer, mas, fazem com que eu logo veja a luz do poderoso sol e volte o meu sorriso e alegria de viver.
Em um mundo de relações fluidas e fortuitas que caminha para uma nova maneira de estabelecer relacionamentos, vejo-me feliz aprisionada aos velhos conceitos onde se abraça o amigo e fica horas e horas conversando, olhos nos olhos, muitas vezes jogados no sofá ou deitados na mesma cama noite adentro, perdendo a noção do tempo numa abundância de carinho que nunca cessa de existir.
Dizem que historicamente a amizade se deu na vida dos humanos como uma forma de se proteger nos predadores e das forças da natureza. Nasceu do nosso instinto de sobrevivência. Deve ser verdade. Como sobreviver neste mundo sem um amigo? Deve ser como um simples passar pela vida, sem alegrias, sem histórias pra contar, sem risadas, sem lágrimas de emoção, sem carinho, sem memórias…
Meu prêmio maior, ter encontrado no amor a amizade profunda. Meu marido, aquele com quem quase tudo é compartilhado, pois o amor em sua reciprocidade, muitas vezes faz com que poupemos o outro da tristeza por amar tanto que não lhe deseja dor. Este amigo amor me completa e quando se distancia, logo me falta um pedaço e sinto essa dor fantasma de um membro amputado. Mas a felicidade não sai de mim pois sei que logo serei completa novamente. É só esperar, arrumando minha casa interior, preparando para a festa concupisciente que é a sua chegada.
Se não consegui me expressar no significado de amizade vos deixo com Vinícius de Moraes que certamente não falhará no encontro de emoção que a definição necessita.
“Soneto do amigo
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica”
Fiz este bolo mousse de chocolate para as minhas amigas na festa de comemoração do fim do meu tratamento. Aprovado por todas. Tudo bem são amigas, mas, posso dizer que foi o melhor bolo de chocolate que já fiz na vida. Vale a pena todo o trabalho. A receita foi inspirada em uma receita da Dani Noce, (https://www.daninoce.com.br/) uma confeiteira e blogueira de sucesso a quem eu sigo com admiração.
Não é um bolo para iniciantes na confeitaria. Seu grau de dificuldade na execução é de médio pra alto.
INGREDIENTES: BOLO
- 1 embalagem para bolo de chocolate de sua preferência ( eu usei Dona Benta)
- Ingredientes solicitados na embalagem. Geralmente leite e ovos.
INGREDIENTES: CREME DE GEMAS
- 60 gramas (1/3 de xícara) de açúcar cristal
- 230 ml de leite integral
- 120 gramas (2/3 de xícara) de açúcar cristal
- 120 gramas (6 unidades) de gemas
INGREDIENTES: MOUSSE
- 1 receita do CREME DE GEMAS (acima)
- 240 gramas de chocolate 55% cacau
- 10 gramas de gelatina em pó
- 400 gramas de creme de leite fresco
INGREDIENTES: FONDANT (GLAÇAGEM)
- 200 gramas (1 + 1/4 de xícara) de açúcar cristal
- 70 gramas (3/4 de xícara) de cacau em pó (usar achocolatado faz diferença)
- 90 ml de água
- 2 colheres de sopa de glucose de milho (essencial para a textura brilhante)
- 150 gramas de creme de leite fresco
- 10 gramas de gelatina em pó
MODO DE PREPARO: BOLO
- Faça o bolo em uma forma de 21cm e deixe esfriar.
- Retire da forma e com ajuda de uma faca de pão, acerte, deixando reta, a superfície do bolo com aproximadamente 2,5 a 3 cm de altura.
MODO DE PREPARO: CREME DE GEMAS
- Leve a menor parte de açúcar para ferver junto com o leite.
- Misture a maior parte do açúcar junto com a gemas.
- Assim que o leite ferver, jogue por cima das gemas mexendo sem parar.
- Coe de volta para a panela e mexe sem parar em fogo baixo, até atingir o ponto napê (82oC).
MODO DE PREPARO: MOUSSE
- Derreta o chocolate picado em banho maria.
- Jogue o creme de gemas quente por cima do chocolate e misture bem.
- Hidrate a gelatina conforme especificado na embalagem e quando o creme com o chocolate estiver a 54oC (morno), jogue a gelatina hidratada e misture.
- Deixe esfriar um pouco mais (aprox. 25oC).
- Bata o creme de leite fresco em ponto de chantilly.
- Adicione 1/3 de chantilly ao creme de chocolate e misture bem. Em seguida, acrescente o restante incorporando delicadamente para não perder o ar. DICA: é muito importante que o creme esteja a 25oC, pois se ele estiver muito mais gelado, a gelatina já começa a endurecer e se estiver muito quente você perde toda a aeração do chantilly (e consequentemente da sua mousse) ao entrar em contato com o creme quente.
MONTAGEM
- Em uma forma de 21 cm com fundo falso, coloque acetato em todo o seu entorno.
- Coloque a mousse em um saco de confeitar e corte um pedaço largo (aprox. 1,5 cm)
- Preencha o entorno da base da forma com um pouco da mousse.
- Encaixe o bolo já cortado e frio bem no centro.
- Complete com a mousse, colocando primeiro em torno da forma e pressionando para cima com a ajuda de uma colher para que o entorno fique completamente liso.
- Ao final arrume a superfície com leves batidinhas
- Leve para o congelador por 3 horas.
*DICA: Se quiser pincele o bolo com uma calda de cereja ou alcoólica. Quanto mais molhadinho mais gostoso!
MODO DE PREPARO: FONDANT
- Quando o bolo estiver congelado, comece a fazer o fondant.
- Em uma cumbuca, coloque a gelatina para hidratar.
- Em uma panela junte o açúcar, o cacau, a água, a glucose e o creme de leite e deixe ferver misturando sempre.
- Transfira a mistura para uma tigela e deixe chegar a 54°C (morno para quente).
- Acrescente a gelatina hidratada e processe por 1 minuto.
- Retire o bolo do congelador, da forma e o acetato que ficou em volta.
- Posicione o bolo no centro de uma grade com uma forma embaixo da grade e jogue o fondant por cima. DICA: Se você não tiver um pegador de bolo para retirar da grade depois, o mais fácil é colocar o bolo em cima de uma lata alta e menor em largura que a superfície do bolo, e colocar a lata no centro da forma. Assim, quando você jogar o fondant, será mais fácil para tirar o bolo e posicioná-lo no prato de servir.
- Dê leves batidas com a forma na mesa para igualar a superfície e se garantir de que não tenha nenhuma bolha de ar.
- Com a ajuda de um pegador de bolo, retire-o da grade e sirva em um prato.
- Deixe na geladeira até voltar à temperatura para servir.